Filhotes de onça-pintada nascem e impulsionam conservação

Filhotes de onça-pintada nascem e impulsionam conservação

Início da recuperação da onça-pintada

Entre dezembro de 2023 e outubro de 2024, seis filhotes nasceram em um ecopark em Maragogi, dentro de um projeto de preservação da onça-pintada, símbolo ameaçado da fauna brasileira.

Em apenas dois anos, um projeto de reprodução de onças em um ecopark de Alagoas alcançou um marco que enche de esperança pesquisadores e ambientalistas: o nascimento de seis filhotes de onça em cativeiro. Localizado no Litoral Norte do estado, o ecopark Sol&Mar abriga animais vindos de diferentes biomas brasileiros, todos resgatados ou recebidos de instituições parceiras que atuam em rede para conservar a espécie. A conquista não é pequena. A onça-pintada, maior felino das Américas, perdeu quase metade de sua população em ecossistemas como a Mata Atlântica, o Cerrado e a Caatinga. Os seis filhotes nasceram de três ninhadas diferentes, sendo dois em cada ninhada, da mesma fêmea: a Kira, uma onça de três patas que chegou ao ecopark há alguns anos. O primeiro nascimento registrado foi em novembro de 2023 e o mais recente, em outubro de 2024.

Desafios e processos do ecopark

Para garantir a reprodução em cativeiro, o projeto segue protocolos rigorosos. O manejo considera o comportamento natural das onças, que são solitárias: machos e fêmeas só ficam juntos no momento exato do cio da fêmea, aumentando as chances de acasalamento. A genética também é cuidadosamente estudada, evitando cruzamentos entre animais de biomas distintos. A rotina inclui recintos planejados para estimular comportamentos naturais, alimentação balanceada e assistência veterinária constante. "No caso da Kira contamos com um parceiro de Minas Gerais que nos enviou um macho de mesma origem que ela. Se tratando de onças é sempre desafiador porque o processo de pareamento e acasalamento é sempre incerto", explicou Felipe Coutinho, médico veterinário responsável pelos animais.

O resultado é mais do que simbólico. Além de manter viva a linhagem dos pais, os filhotes podem, futuramente, ser destinados a outras instituições de conservação em todo o país. E ganha ainda mais relevância diante da realidade da espécie, que já perdeu metade de sua população em biomas como cerrado, mata atlântica e caatinga.

O futuro e a preservação da espécie

Atualmente, não há previsão de soltura na natureza. Isso exige etapas complexas, como adaptação comportamental, análises genéticas e avaliação de áreas seguras para reintrodução. "Dentro do próprio projeto de conservação, a gente conta com instituições que conseguem fazer a soltura, inclusive isso já aconteceu com outros animais nossos. A ideia é que, através dessas instituições, a gente consiga fazer a soltura das onças na natureza", explicou Gabriel Gouveia, proprietário do ecopark.

O ecopark também participa de programas de conservação de outras espécies ameaçadas. Segundo Gabriel, parte expressiva da receita do parque é revertida para esses projetos, que sobrevivem quase sempre em meio à escassez de recursos.

O próximo passo é ousado: ampliar o número de casais reprodutores e consolidar o ecopark como referência nacional em reprodução de grandes felinos. Mais do que números, a iniciativa quer inspirar. "Queremos conscientizar cada vez mais pessoas da importância desses trabalhos", afirma Gabriel.