O Calvário de Bolsonaro em dois atos: inelegível e preso, apoiando a quem?

Único ex-presidente que levará consigo a tropa que o seguiu em tudo e para tudo

O Calvário de Bolsonaro em dois atos: inelegível e preso, apoiando a quem?

O roteiro político de Jair Bolsonaro parece seguir uma lógica inevitável, dividida em dois atos dramáticos que o Brasil acompanha como uma peça em cartaz há anos. O primeiro ato já se consumou: a inelegibilidade. Condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral, o ex-presidente está fora do jogo eleitoral até 2030. O segundo ato, ainda em gestação, pode levá-lo à prisão, resultado de múltiplas investigações sobre sua conduta antes, durante e após o mandato.

Essa narrativa, marcada por atos de confronto com instituições, ataques à democracia e estratégias de vitimização, vai se estreitando. E a pergunta que se impõe é: a quem Bolsonaro apoiará, quando se vê impedido de ser o protagonista?

Se inelegível, resta-lhe o papel de cabo eleitoral. Sua base radicalizada ainda é barulhenta, mas começa a dar sinais de cansaço diante do esvaziamento de sua força institucional. Apoiadores percebem que o mito se transformou em réu. E se preso, o destino político de Bolsonaro se torna ainda mais incerto. Estará ele em condições de liderar da cadeia, como outros líderes latino-americanos tentaram, ou sua ausência abrirá espaço para novos nomes da direita, ansiosos por ocupar o vácuo deixado?

Dentro desse tabuleiro, o bolsonarismo pode se fragmentar. Governadores alinhados, deputados federais ambiciosos e figuras da extrema-direita disputam a herança política do ex-capitão. Uns buscarão a bênção direta de Bolsonaro, mesmo atrás das grades; outros tentarão se libertar da sombra para conquistar espaço próprio.

O calvário de Bolsonaro, portanto, não é apenas pessoal: é o teste de sobrevivência de um movimento que nasceu do antipetismo, cresceu com Fake News e floresceu no terreno fértil da polarização. Agora, sem a figura central, restará saber se o bolsonarismo se consolidará como corrente política autônoma ou se será engolido pela própria ausência de seu líder.

Enquanto isso, a pergunta segue no ar: Bolsonaro, inelegível e possivelmente preso, apoiará a quem? O futuro nos dirá se sua bênção ainda será suficiente para eleger ou se, no fundo, será apenas o último ato de uma peça cujo desfecho já está escrito.

Creditos: Professor Raul Rodrigues