Até onde o tráfico já chegou no Brasil?
17/09/2025, 16:48:17Em todas as áreas o tráfico já atua. Na política elegendo diretamente a nomes reconhecidamente como ligados ao tráfico. Ou bancando a personagens escolhidos a dedo para defender os chefes criando leis.
O tráfico de drogas no Brasil deixou de ser apenas uma questão policial para se tornar um problema estrutural, político e social de proporções alarmantes. O que antes era visto como um comércio marginal e restrito a áreas específicas das grandes cidades, hoje alcança todas as esferas da vida nacional: da periferia ao centro, das vielas aos gabinetes, da violência explícita às engrenagens silenciosas da corrupção.
O alcance do tráfico pode ser medido em várias dimensões. A primeira e mais visível é a territorial. Facções criminosas dominam comunidades inteiras, ditando regras, impondo toques de recolher, oferecendo “proteção” e até substituindo o Estado em funções básicas como a distribuição de cestas básicas ou a mediação de conflitos locais. Nessas regiões, a lei do tráfico pesa mais que a Constituição.
A segunda dimensão é a institucional. O tráfico já atravessou os muros das prisões, transformando penitenciárias em centros de comando. Mais grave ainda é a infiltração no poder público: policiais cooptados, agentes públicos coniventes, políticos financiados por dinheiro ilícito. O narcotráfico, ao irrigar campanhas e sustentar esquemas de corrupção, contamina a democracia e mina as bases do Estado de Direito.
A terceira dimensão é a social. O tráfico se alimenta das desigualdades históricas do Brasil. Para muitos jovens em situação de vulnerabilidade, o crime aparece como a única alternativa de renda e status. Enquanto isso, o consumo, que sustenta a engrenagem, cresce nas classes média e alta, revelando uma hipocrisia nacional: de um lado, o clamor por segurança; de outro, a manutenção da demanda que fortalece os cartéis.
O ponto mais preocupante é que o tráfico não está mais limitado às drogas. Ele se diversificou: armas, contrabando, grilagem de terras, garimpo ilegal e até o domínio sobre rotas internacionais. O Brasil, antes apenas corredor do narcotráfico, tornou-se um protagonista nas redes globais do crime organizado.
A pergunta central – até onde o tráfico já chegou? – encontra resposta amarga: ele chegou aonde o Estado não conseguiu ou não quis estar. Chegou ao coração da política, ao cotidiano das famílias, à economia paralela que movimenta bilhões, ao imaginário da juventude sem perspectivas e à segurança pública falida que corre atrás de prejuízos.
Se não houver uma política nacional séria, integrada e corajosa – que combine repressão qualificada, inteligência policial, combate à lavagem de dinheiro, políticas sociais robustas e enfrentamento da corrupção – o tráfico continuará a avançar. E não se trata mais de perguntar “até onde vai chegar”, mas sim de como impedir que ele se torne a verdadeira força dirigente de um país em crise de autoridade.