Seria a função original do rádio a porta aberta para os desesperados?

Do consolo à denúncia, o rádio ainda é o refúgio de quem não encontra voz em lugar algum. E para Sílvio Santos a Porta da Esperança para quem trabalha com a verdade.

Seria a função original do rádio a porta aberta para os desesperados?

O rádio, desde o seu nascimento, foi mais do que um simples instrumento de comunicação: foi uma extensão da alma popular. Em seus primórdios, carregava vozes de esperança, recados, notícias, músicas e — sobretudo — o calor humano que faltava nos lares distantes. Mas a pergunta que se impõe é inevitável: seria a função original do rádio a porta aberta para os desesperados?

Talvez sim. Porque o rádio, com sua simplicidade e alcance, nunca foi elitista. Ele não pediu diplomas, não exigiu paletós, nem credenciais. Bastava um microfone e um coração pulsando do outro lado. Foi o rádio que primeiro deu espaço ao desespero anônimo — às mães que procuravam filhos, aos lavradores em busca de justiça, aos esquecidos pela burocracia, aos aflitos sem resposta. Mas nunca pensando em porta aberta para os sem crédito.

E mesmo hoje, em tempos de redes sociais e algoritmos, é o rádio que ainda acolhe os que gritam sem eco. É nele que muitos encontram o ombro amigo, o espaço da denúncia, o alívio da alma. Mas o rádio deveria perguntar quem você é — e não apenas escutar.

A função original do rádio não era apenas informar, mas pertencer. Era ser a ponte entre o poder e o povo, entre o campo e a cidade, entre a voz e o silêncio. E talvez por isso, quando todos os outros meios se fecham, o rádio permanece aberto — todavia não como uma porta para os desesperados, e sim, para os esperançosos, os corajosos, e os que ainda acreditam que falar com fundamentação venha ser um ato de resistência.

Porque enquanto houver um rádio ligado, haverá alguém sendo ouvido. E, no fundo, sendo sempre a voz da verdade sua verdadeira missão.

Creditos: Professor Raul Rodrigues