O Rio São Francisco pede socorro mais uma vez

O “Velho Chico” agoniza entre o descaso, o desmatamento e a falta de compromisso ambiental. Da última vez, dragaram a frente do porto de Penedo. mass e agora?

O Rio São Francisco pede socorro mais uma vez

Mais uma vez, o Rio São Francisco – o “Velho Chico” de tantas histórias, canções e orações – ergue a voz silenciosa das águas para pedir socorro. O que já foi símbolo de vida, fé e prosperidade para o Nordeste, hoje clama por atenção, por respeito e, sobretudo, por sobrevivência.

O São Francisco não morre de velhice; morre de abandono. Suas margens, antes cobertas por matas ciliares, hoje sofrem o impacto direto do desmatamento, da erosão e do uso desenfreado de agrotóxicos. O assoreamento avança, transformando leitos em bancos de areia e transformando o curso de um rio secular em um espelho raso e triste.

As cidades ribeirinhas, que deveriam ser guardiãs de suas águas, também sofrem com o resultado da omissão coletiva. O esgoto doméstico e industrial, despejado sem tratamento, é a ferida aberta que sangra o corpo do rio. O “Velho Chico”, que já foi fonte de alimento, transporte e esperança, hoje carrega em seu leito o reflexo do nosso descompromisso com o futuro.

Os programas de revitalização são lançados com pompa e esquecidos com pressa. Falta continuidade, sobra propaganda. Falta gestão, sobra discurso. E enquanto os papéis dormem nas gavetas da burocracia, o rio perde força, volume e dignidade.

O São Francisco pede socorro não apenas aos governantes, mas a cada cidadão que vive em suas margens, que bebe de suas águas, que planta às suas custas. É preciso entender que salvar o rio é salvar a nós mesmos.

Que o eco desse pedido de socorro não se perca nas correntezas da indiferença. Que o Brasil desperte para o fato de que o “Velho Chico” ainda é novo o bastante para renascer — mas apenas se houver vontade, ação e amor pelas águas que nos dão vida.

Se quisermos continuar contando histórias às suas margens, é hora de trocar a saudade pela responsabilidade. Porque o São Francisco não pode morrer — e, mais uma vez, ele está pedindo para viver.

Creditos: Professor Raul Rodrigues