Quando o ódio guia a urna: as vinganças que destroem o próprio eleitor
02/12/2025, 20:55:39Como votos movidos pela raiva produzem erros caros, alimentam ciclos de má gestão e transformam a política em terreno de acertos de contas. Penedo precisa continuar crescendo
População brasileira vive, há anos, sob a sombra de um sentimento corrosivo: o voto orientado pela vingança. Em vez de instrumento de mudança, o voto vira arma moral, usada não para construir o futuro, mas para destruir o adversário da vez. Quando o eleitor transforma a urna em ringue, não escolhe projetos, não avalia gestores, não busca melhorias — ele apenas desconta frustrações. É o voto contaminado pelo ódio, que promete alívio momentâneo, mas cobra um preço alto e duradouro.
A história recente mostra que toda vez que o país mergulha em ondas de ressentimento, as escolhas se tornam frágeis e imediatistas. Eleitores castigam quem está no poder não porque avaliaram mal a gestão, mas porque carregam revoltas acumuladas de anos. Outros votam apenas para “impedir” alguém, sem notar que, nesse movimento reativo, colocam em posição de comando nomes sem preparo, sem compromisso e, em muitos casos, sem qualquer vocação pública. É o clássico erro travestido de revanche.
O voto pelo ódio é enganoso: ele dá a sensação de poder, mas não entrega solução. A política não funciona sob lógica de acerto de contas. Quem entra pela porta da frente movido por espíritos de revanche sai pela mesma porta incapaz de governar, cercado por polarização, desconfiança e paralisia. A vingança eleitoral é um tiro disparado no calor da emoção que, inevitavelmente, ricocheteia contra o próprio eleitor. Depois, vêm as queixas: serviços sucateados, obras paradas, saúde precária, gestão incompetente. Mas a raiz estava lá atrás, na escolha feita sem lucidez.
O caminho responsável não passa pelo ódio, e sim pela crítica racional. Avaliar propostas, examinar históricos, comparar gestões, cobrar clareza e transparência — isso sim é exercício de cidadania. O voto não é um castigo; é uma ferramenta de reconstrução. Quando o eleitor decide com calma, não se deixa manipular por ruídos, não embarca em guerras alheias, nem se converte em instrumento de grupos que lucram com o caos. Votar bem exige maturidade emocional e consciência de que cada decisão tem efeitos que ultrapassam o ciclo da raiva.
No fim, as vinganças erradas se revelam tardias e amargas. O ódio nunca foi bom conselheiro, e a política não é lugar para expurgos emocionais. A urna não serve para descontar mágoas, mas para projetar caminhos. Quem vota para ferir, termina ferido. Quem vota para construir, colhe futuro.