Irmã de mulher morta no CEFET discursa em ato contra feminicídio
08/12/2025, 15:07:25Protesto em Copacabana
Um ato público em memória de vítimas de feminicídio tomou a orla de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, neste domingo (7), reunindo familiares, sobreviventes de tentativas de feminicídio e movimentos de defesa dos direitos das mulheres. O protesto fechou a Avenida Atlântica na altura do Posto 5, após acordo com a Polícia Militar, com desvio do trânsito para a Rua Barata Ribeiro e a Rua Ria Sá Ferreira.
A manifestação começou ocupando as calçadas das duas margens da avenida, enquanto o fluxo de veículos seguia pelo Centro da via. Com o aumento do público, a situação passou a oferecer risco aos participantes, algumas pessoas chegaram a ficar próximas da pista, quase sendo atingidas por carros. Diante disso, o carro de som convocou os presentes a ocupar a rua. Pouco depois, a polícia chegou ao local e negociou a interdição parcial da via para garantir a segurança do ato.
Discursos emocionantes
A programação incluiu a abertura com bateria, uma banda e palavras de ordem, antes do momento mais emocionado do encontro: os depoimentos de mulheres que sobreviveram à violência, familiares de vítimas e representantes de coletivos feministas. Um dos discursos mais fortes foi o de Alline de Souza Pedrotti, irmã de Alane, vítima de feminicídio dentro do Cefet Maracanã. Ao seu lado estava o irmão de Laíze, assassinada no mesmo dia, no mesmo local e pelo mesmo autor, que preferiu não discursar.
Visivelmente emocionada, Alline destacou a necessidade de união e responsabilização das instituições. "Estarmos unidos aqui nesse momento é o que vai gerar as mudanças necessárias. Eu sou irmã da Alane, vítima de feminicídio dentro do Cefet Maracanã. Aqui ao meu lado está o irmão da Laíze, vítima do mesmo crime no mesmo dia, no mesmo local."
Ela afirmou que o crime destruiu famílias inteiras e cobrou resposta direta do governo federal e das autoridades. "Esse crime devastou as nossas vidas e as nossas famílias. Eu venho aqui agora perguntar onde estão os ministérios da Mulher e da Educação. Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, eu votei em você."
No discurso, Alline exigiu a criação de novas políticas públicas e mudanças na legislação para prevenir a violência contra a mulher. "Eu exijo a criação de medidas e legislação para que nenhuma de nós caia ao solo vítima de feminicídio." Ela também acusou a direção do Cefet Maracanã de omissão. "A diretoria do Sepete Maracanã está sendo omissa, como foi ao permitir que a minha irmã e a Laíze fossem assassinadas pelas mãos de um funcionário do próprio Sepete."
Ao final, conclamou união em defesa da vida de todas as mulheres. "Conto aqui com a união de todas, todos e todes vocês, para não deixar essa luta passar. É pela vida de todas as mulheres: mulheres cis e mulheres trans." O ato segue reunindo manifestantes na Avenida Atlântica, com a via fechada no trecho do Posto 5 e o trânsito desviado pela Rua Ria Sá Ferreira, enquanto os depoimentos continuam sendo feitos no carro de som.
Nota do Cefet/RJ
Em nota, o Cefet/RJ afirmou estar consternado com a tragédia ocorrida em 28 de novembro na Unidade Maracanã, que resultou na morte de Allane de Souza Pedrotti Matos e Layse Costa Pinheiro, servidoras da instituição. A direção ressaltou que a escola é centenária, referência nacional na formação técnica e acadêmica, e que sempre atua seguindo protocolos legais para garantir um ambiente de trabalho seguro, com medidas de mediação e resolução de conflitos entre servidores e também junto à comunidade discente.
Sobre o caso específico, o Cefet declarou ter adotado todas as medidas administrativas possíveis dentro dos limites da legislação em relação ao servidor acusado, incluindo afastamento cautelar por 120 dias, período durante o qual ele esteve impedido de acessar a unidade, além da solicitação de perícia médica oficial externa, que o considerou apto ao retorno ao trabalho após o fim da medida. A instituição informou ainda que buscou realocá-lo em outros setores, propostas recusadas pelo próprio funcionário, e que posteriormente promoveu sua remoção para outra coordenação em abril de 2025.
O Cefet acrescentou que mantém sistemas de controle de acesso por biometria facial e câmeras de monitoramento, informou que irá reforçar ações de combate a assédio e violências, e destacou que colabora integralmente com a Justiça, colocando-se à disposição das autoridades.