Os cinco furtos contra umas mentiras

Quando as verdades dos furtos são fortes mente-se para desacreditá-las.

Os cinco furtos contra umas mentiras

Há mentiras que não se sustentam sozinhas. Para sobreviver, elas precisam roubar — furtar sentidos, fatos, palavras e até consciências. Não chegam pela porta da frente; entram pelos fundos da distração coletiva. São pequenas subtrações diárias que, somadas, constroem grandes enganos. Eis, então, os cinco furtos mais comuns cometidos pelas mentiras que insistem em governar o discurso público.

1. O furto da verdade
O primeiro roubo é sempre o mais óbvio: a verdade é retirada do centro do debate. Fatos são omitidos, dados são recortados, contextos são amputados. Não se nega totalmente o real; apenas se leva embora o que incomoda. A mentira prefere meia verdade, porque ela engana com aparência de honestidade.

2. O furto do contexto
Aqui mora a perversidade mais refinada. Uma frase dita fora do tempo e do lugar passa a significar o oposto do que foi pensado. A mentira furta o antes e o depois, deixando o leitor refém de um presente artificial. Sem contexto, qualquer narrativa pode ser moldada ao interesse de quem mente.

3. O furto da linguagem
Palavras são sequestradas e ressignificadas. Corrupção vira “esperteza”, autoritarismo vira “ordem”, injustiça vira “necessidade”. Quando a linguagem é roubada, o pensamento também é. Quem controla os nomes controla as ideias — e a mentira sabe disso melhor do que ninguém.

4. O furto da memória
Mentiras odeiam lembranças. Por isso, trabalham para apagar o passado ou reescrevê-lo. Furtam a memória coletiva para que erros antigos pareçam novidades e culpados de ontem se apresentem como salvadores de hoje. Um povo sem memória é um terreno fértil para qualquer farsa.

5. O furto da responsabilidade
Por fim, a mentira rouba a responsabilidade dos seus autores. Nunca há culpados, apenas “mal-entendidos”, “excessos” ou “interpretações”. A mentira se espalha, causa danos reais, mas ninguém assume o crime. O furto é coletivo; a autoria, invisível.

Combater mentiras não é apenas desmenti-las, mas recuperar o que foi roubado: a verdade inteira, o contexto honesto, a linguagem limpa, a memória viva e a responsabilidade clara. Enquanto aceitarmos esses furtos como normais, continuaremos pagando o preço de um engano que nunca foi gratuito — apenas muito bem planejado.

Creditos: Professor Raul Rodrigues