Ver o mundo através dos jovens é não saber nem acreditar na vida

Entre o entusiasmo do novo e a sabedoria do tempo: quando a experiência insiste em ser ouvida

Ver o mundo através dos jovens é não saber nem acreditar na vida

A palavra liberdade costuma ser pronunciada como um direito absoluto, quase mágico, capaz de justificar qualquer ato, discurso ou decisão. Invoca-se a liberdade para falar, agir, escolher caminhos, romper regras. No entanto, há uma distorção perigosa nessa compreensão: não existe liberdade sem responsabilidade. Ser livre não é fazer tudo o que se quer sem limites; é, antes de tudo, aceitar plenamente as consequências do que se escolhe fazer.

Toda escolha carrega um preço. Quando optamos por um caminho, automaticamente renunciamos a outros. Isso vale para a vida pessoal, para a convivência social e, de forma ainda mais contundente, para a política. A verdadeira liberdade não se mede pela ausência de regras, mas pela maturidade de compreender que nossos atos produzem efeitos que recaem sobre nós e sobre os outros.

No convívio social, ninguém é livre para ferir, discriminar, mentir ou incitar o ódio e depois se esconder atrás do discurso da “liberdade de expressão”. Palavras também são ações. Elas constroem ou destroem reputações, alimentam violências e moldam comportamentos coletivos. Quando o discurso ultrapassa o limite do direito e invade o território do dano, a consequência é inevitável: a responsabilização.

Na política, essa lógica é ainda mais clara. Um representante eleito é livre para propor, votar, discursar e se posicionar. Mas essa liberdade vem acompanhada do dever de responder por seus atos diante da lei, das instituições e, sobretudo, do povo. Não há democracia possível quando a liberdade é usada como escudo para a irresponsabilidade, o abuso de poder ou o ataque às próprias bases do Estado de Direito.

Confundir liberdade com impunidade é um erro que cobra um alto preço da sociedade. Países que trilharam esse caminho viram crescer o autoritarismo, a violência simbólica e real, e o enfraquecimento das instituições. A liberdade, quando desconectada das consequências, deixa de ser um valor civilizatório e passa a ser instrumento de destruição.

Ser livre, portanto, exige coragem. Coragem para escolher com consciência, para assumir erros, para responder pelos próprios atos. A liberdade madura não foge das consequências; ela as encara. Só assim é possível construir uma sociedade justa, onde direitos caminhem lado a lado com deveres, e onde a liberdade de um não signifique a opressão do outro.

No fim, a verdadeira liberdade não está em fazer tudo, mas em saber responder por aquilo que se faz. Porque liberdade, em sua essência mais profunda, é aceitar as consequências.

Creditos: Professor Raul Rodrigues