Investigação do Caso Ruy Ferraz e sua complexidade criminosa
16/12/2025, 06:06:07Caso Ruy Ferraz: Quem fez o quê na trama que matou inimigo do PCC
Três meses após a emboscada contra o ex-delegado-geral, a investigação identificou 8 suspeitos e revelou a divisão de tarefas na ação ordenada pela facção.
Assassinatos de autoridades raramente começam no momento do disparo. Eles têm início muito antes, quando alguém cruza uma linha que organizações criminosas não toleram: expor sua estrutura, nomear seus líderes e desmantelar sua hierarquia. No caso de Ruy Ferraz Fontes, essa travessia ocorreu ainda nos anos 2000, e a facção decidiu que a conta seria cobrada, não importando quanto tempo levasse.
A morte de Fontes, em 15 de setembro de 2025, não foi um ato isolado de violência. Foi a execução de um protocolo operacional sofisticado, construído especificamente para cumprir uma determinação que partiu do topo da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). As investigações revelaram uma engrenagem projetada para manter distância absoluta entre quem ordena e quem mata.
Embora o sistema tenha sido desenhado para garantir o anonimato dos mandantes e a impunidade dos executores, o trabalho conjunto da Polícia Civil e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, mapeou as peças dessa engrenagem. De acordo com a Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo, até agora foram identificados oito participantes diretos na teia criminosa que matou o ex-delegado-geral Fontes.
Marcos Augusto Rodrigues Cardoso, conhecido como Fiel, Pan ou Penélope Charmosa, foi preso como um dos organizadores e recrutadores do atentado contra o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes em Praia Grande, litoral de São Paulo. Marcos, 36 anos, atuava a partir do bairro do Grajaú, na zona sul de São Paulo, e possui ficha criminal com passagens por tráfico de drogas, porte ilegal de arma e receptação. Ele foi preso em 3 de novembro de 2025. A acusação contra Fiel o coloca no topo da hierarquia operacional do grupo, atuando como recrutador e gestor da célula criminosa. Identificado como "Disciplina" do PCC na região do Grajaú, ele foi o responsável por escalar e autorizar a participação de Umberto Alberto Gomes, o Playboy, para a missão de assassinar o delegado. A investigação aponta que Fiel exercia poder de comando sobre os demais envolvidos, já que a maioria dos executores residia sob sua região de influência na capital.
Seu vínculo direto com o atentado foi confirmado por provas telemáticas extraídas dos dois celulares de Playboy, apreendidos pela polícia após sua morte, no Paraná, em 30 de setembro de 2025. Seis dias após o crime, Playboy enviou uma mensagem a Fiel agradecendo pela "oportunidade" de ter sido escolhido para a execução de Fontes, evidenciando que a ordem partiu de Marcos. Além disso, diálogos interceptados mostram Fiel gerenciando a crise pós-crime, discutindo a destruição de um Renault Logan usado na fuga, a fim de tentar eliminar digitais, e articulando planos para escapar para o Paraguai.
Ao ser preso em flagrante, Fiel portava uma arma de fogo com numeração suprimida. Em seu primeiro interrogatório, ele admitiu integrar o Primeiro Comando da Capital e exercer função de liderança, o que reforça a tese de que o assassinato foi uma missão institucional da facção.
Crimes atribuídos a Fiel: 1 - Integração em organização criminosa armada (com agravante de comando) 2 - Homicídio qualificado tentado contra Samantha Gonçalves Carvalho, ferida a tiro durante o atentado contra Fontes 3 - Homicídio qualificado tentado contra Gustavo Henrique Gonçalves, ferido a tiro durante o atentado contra Fontes 4 - Homicídio qualificado consumado contra Fontes.
Luiz Antonio Rodrigues de Miranda, conhecido como Gão, ele é foragido da Justiça e acusado de ser um dos envolvidos na execução do ex-delegado. Gão é responsável pela logística das armas usadas no crime. Com 43 anos e ficha criminal que inclui roubo, tráfico de drogas e porte de arma, ele é descrito como um criminoso experiente. Sua prisão preventiva foi decretada pela Justiça, mas ele está foragido.
A investigação apura que ele foi o responsável pelos detalhes finais para garantir que o grupo estivesse pronto para o atentado. Contudo, no dia do crime, ele foi flagrado por câmeras de segurança, carregando um fuzil envolto em um cobertor rosa em direção ao local do crime.
O resgate do arsenal: Após a execução, a frieza de Gão ficou evidente na coordenação da limpeza do rastro deixado. Ele escondeu o fuzil, munições e botas táticas antes de fugir. No dia seguinte, fez uma chamada de vídeo orientando uma cúmplice a recuperar as armas.
Cristiano Alves da Silva, conhecido como Cris Brown, apresentava-se como um empreendedor imobiliário, mas para a Polícia Civil e o Ministério Público, ele atuava como operador logístico do PCC. Ele está preso preventivamente por suas ações na preparação do crime.
A casa-cofre em Mongaguá: Segundo pesquisadores, Cris Brown cedeu um imóvel para a célula criminosa, que servia como base de operações. A perícia encontrou impressões digitais de um dos líderes do ataque confirmando a ligação com o local.
Gustavo e Samantha: vítimas das balas perdidas do PCC. Gustavo Henrique Gonçalves, com 20 anos, acabara de sair da prisão e estava celebrando em família quando os atiradores do PCC emboscaram o ex-delegado Fontes. Ambos foram atingidos, mas conseguiram ser socorridos.
Esse evento trágico é um exemplo da indiferença do grupo criminoso com a vida alheia.