Por ato de coragem, Lula diz vetar PEC da dosimetria

Guerra entre poderes deve aquecer bastodres da política na entrada de 2026

Por ato de coragem, Lula diz vetar PEC da dosimetria

Em um cenário político marcado por pressões corporativas, populismo penal e tentativas recorrentes de enfraquecer o equilíbrio entre os Poderes, a sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vetar a chamada PEC da dosimetria deve ser compreendida como um ato de coragem política e responsabilidade institucional.

A Proposta de Emenda à Constituição, vendida ao público como instrumento de “justiça” e “correção de excessos”, carrega em seu núcleo um risco grave: interferir diretamente na autonomia do Judiciário ao engessar critérios de dosimetria da pena, retirando do magistrado a análise individualizada do caso concreto. Em outras palavras, trata-se de mais uma tentativa de transformar a Constituição em código penal de ocasião, moldado ao sabor das paixões políticas do momento.

Lula, ao anunciar o veto, não se coloca acima do debate, mas dentro da Constituição. Governa para além das manchetes fáceis e das pressões do Congresso, assumindo o ônus de defender princípios que não rendem aplausos imediatos, mas garantem a sobrevivência do Estado Democrático de Direito. Vetar essa PEC é dizer, com clareza, que o combate ao crime não se faz com atalhos autoritários nem com a desfiguração das garantias constitucionais.

A dosimetria da pena não é um capricho técnico, tampouco um privilégio de réus. É um instrumento civilizatório que impede condenações automáticas, vingativas e desproporcionais. Retirá-la das mãos do Judiciário significa abrir caminho para a padronização da injustiça — aquela que trata desiguais como iguais apenas para satisfazer discursos punitivistas.

Num Congresso que frequentemente legisla mirando as redes sociais e o calendário eleitoral, o veto presidencial surge como freio de arrumação. Lula sabe que governar também é dizer “não”, especialmente quando o “sim” colocaria em risco a arquitetura constitucional construída a duras penas após períodos de exceção.

Mais do que um gesto político, o veto à PEC da dosimetria é um recado: o Brasil não pode voltar a flertar com soluções fáceis para problemas complexos. Coragem, neste caso, não está em endurecer a lei a qualquer custo, mas em preservar a Constituição quando ela mais incomoda aqueles que preferem o aplauso rápido à responsabilidade histórica.

Creditos: Professor Raul Rodrigues