Como as estátuas da Ilha de Páscoa foram transportadas
30/12/2025, 05:11:11Como as estátuas da Ilha de Páscoa foram transportadas?
Pesquisa experimental confirma que as "cabeças gigantes" foram movidas com o uso de cordas e equilíbrio, como descreviam as tradições do povo Rapa Nui.
As estátuas Moai, esses monumentos gigantes da Ilha de Páscoa, no Chile, sempre foram um enigma da história. Com até 10 metros de altura e dezenas de toneladas, elas foram esculpidas pelos habitantes Rapa Nui (nativos da ilha) entre os anos 1250 e 1500. Uma época em que não existiam máquinas pesadas e nenhum tipo de tecnologia automatizada. É quase impossível não se questionar como elas foram parar ali. Dá pra imaginar? São mais de 800 "cabeças" de pedra espalhadas pela ilha. Em busca de uma resposta, um novo estudo publicado no Journal of Archaeological Science reforça a hipótese de que as estátuas Moai "caminhavam".
Com base na análise de 962 esculturas, em especial 62 que ficaram pelo caminho, os pesquisadores Carl Lipo e Terry Hunt, da Universidade de Binghamton, em Nova York, mostraram que os Moai foram projetados com uma leve inclinação para frente e bases em formato de “D” justamente para facilitar o transporte em pé. Essa forma permitia o uso da gravidade e de cordas para fazer as estátuas balançarem de um lado para o outro, como se estivessem andando.
Hora de executar a hipótese
Para testar a ideia, a equipe colocou a mão na massa e construiu uma réplica de nada mais, nada a menos do que 4,35 toneladas, mesmas proporções dos Moai encontrados nas antigas estradas da ilha. O modelo gigante foi movido por apenas 18 pessoas, que o fizeram “andar” 100 metros em 40 minutos, sem trilhos, rodas ou toras de árvores.
Os testes conduzidos por Carl Lipo e sua equipe ajudaram a mostrar fisicamente algo que, por muito tempo, parecia impossível. “Depois que a estátua começa a se mover, não é difícil – as pessoas puxam com apenas um braço. Isso economiza energia e o deslocamento é muito rápido”, afirmou o arqueólogo em comunicado divulgado pela Universidade de Binghamton. Segundo ele, o maior desafio não está no peso, mas em iniciar o balanço controlado da escultura. “A parte mais difícil é fazê-la começar a oscilar. A questão é: se ela for realmente grande, o que seria necessário?”. A resposta veio com os experimentos práticos. “A física faz sentido”, resumiu Lipo. “O que vimos funcionar experimentalmente realmente funciona.”
A hipótese que justifica um conjunto de evidências arqueológicas
Além da validação em campo, o estudo também reforçou a importância das estradas construídas pelos Rapa Nui para o transporte das estátuas. “Toda vez que eles movem uma estátua, parece que estão construindo uma estrada. A estrada faz parte do processo de transporte”, explicou o pesquisador, ao analisar os caminhos largos e levemente côncavos da ilha. Para Lipo, nenhuma outra hipótese consegue explicar o conjunto de evidências arqueológicas. “Encontre alguma evidência que mostre que elas não poderiam ter ‘andado’. Porque nada do que vimos até hoje contradiz essa ideia”, afirmou.
Os resultados ajudaram a desconstruir o mito de suposto colapso ecológico causado pelo uso excessivo de madeira. Segundo os autores, o transporte dos Moai exigia poucos recursos e muita inteligência, conclusão essa, totalmente alinhada com os relatos orais dos Rapa Nui, que diziam que as estátuas simplesmente “caminhavam” até seus destinos. Segundo ele, o trabalho também presta uma homenagem ao povo da ilha. “Isso mostra que os Rapa Nui eram incrivelmente inteligentes. Eles descobriram como fazer. Fizeram isso de uma forma coerente com os recursos que tinham.”
Por que as estátuas Moai foram criadas?
As esculturas, conhecidas como Moai, foram construídas para representar ancestrais importantes dos clãs Rapa Nui. Acreditava-se que esses antepassados tinham o poder de proteger e abençoar seus descendentes, por isso, os Moai eram posicionados voltados para as aldeias, como se estivessem de vigia. Eram uma espécie de monumentos sagrados ligados à espiritualidade e organização social daquele povo.
Além do papel espiritual e social, pesquisadores acreditam que os Moai e suas plataformas (ahu) podem ter sido alinhados com eventos astronômicos, como o nascer ou o pôr do Sol em datas específicas. Estudos sugerem que alguns ahu estão voltados para o solstício de verão ou inverno, por exemplo, mostrando que o povo local tinha conhecimento do movimento solar. Essa relação com o céu também aparece em artefatos como o rongorongo, um sistema de escrita ainda não totalmente decifrado, e nas lendas que falam de corpos celestes, estrelas e ciclos da Lua.